Saturday, April 21, 2007

sonho

a gente estava no velório do rocky, o lutador. mas ele claramente se mexia dentro do caixão - quem não via a respiração tava fazendo muito de conta. aí depois era um hospital psiquiátrico, e cada um tinha sua cama, e parece que alguém ia fazer um xarope de água sanitária e todo mundo tinha que beber. aí teve uma luta, a gente combatendo uma vilã, e depois uma cerimônia linda linda num páteo enorme, com todos os louquinhos com roupa de festa recebendo condecorações. saí descendo uma ladeira, experimentei na cabeça um chapéu do inspetor clouseau, e me despedi de um professor gente boa, que tinha o mesmo endereço de email que minha sogra. ele pedia pra gente escrever sempre que desse, e eu não conseguia parar de olhar pro seu nariz batatudo e cheio de cravos. meu marido dizia que ia levar aquela guria morena prum motel - mas era jogo rápido de verdade, que eu não me preocupasse, logo estaria de volta pra me levar ao cinema. eu paciente - de paciência, e não doença - fui dar uma volta, colhi três mini-flores-de-canela, e coloquei no vaso que tinha na boca. o celular de alguém tocava, e a gente ficava sabendo que só depois das dez da noite ia ter a liberação do corpo médico.

Tuesday, April 17, 2007

trecho (ótimo) de um conto (nem tanto)

"(...) e me olhou de alto a baixo, sem me dar nenhuma palavra, mas eu também não estava interessado no que ele estava pensando; o que os outros pensam da gente não interessa, só interessa o que a gente pensa da gente; por exemplo, se eu pensar que sou um merda, eu sou mesmo, mas se alguém pensar isso de mim o que que tem?"

Friday, April 13, 2007

cross stance

eu nunca tinha reparado nos seus joelhos.
na minha cabeça, você era, até então, quase só um amontoado de imagens ancoradas a impulsos elétricos que faiscavam a boca do estômago. e, antes que houvesse articulações ou quaisquer outras coisas que dobrassem, havia maçãs e sobrancelhas. aí vieram os joelhos. porque ficamos sentados frente a frente por uma hora e alguma coisa, entediados com aquela encenação burguesa e vazia, e o olhar flutuou três minutos até descansar nas cartilagens redondas onde suas pernas fazem esquina. brilhando. você ir embora: esvazio e murcho. as panturrilhas caminham levando embora. odeio quando seus joelhos me dão as costas.

Sunday, April 01, 2007

mimo

se tivesse comprado a kombi como eu queria, e ignorado o veto de deolinda, ela hoje estaria rodando vazia. a kombi, não deolinda. disse pra quê sete lugares se tu só conhece três pessoas e eu até resmunguei e tals, mas no fim gamei na brasília sete-seis, e assinei o cheque. não que não gostasse mais da perua, que até duas cores tinha. preto embaixo, branco no teto. era minha predileta entre todos os carros expostos no páteo, mas deolinda era ela, sim, a preferida. entre nós, eu digo. e, assim, desisti da kombi, porque no fundo eu sabia que ela estava com a razão. eram, afinal, três as pessoas que eu conhecia. meu pai, primo cícero e ela, deolinda. dava num fusca, inclusive. aí, como é sempre melhor ver deolinda rindo, fiquei com outro carro mesmo. até porque cícero nunca aceita as caronas que ofereço, meu pai diz que prefere ir andando e só deolinda mesmo acaba usando o banco do lado. e o de trás, quando quer falar que tem motorista.
ia ser muito bonito eu dirigindo a kombi.

queria que ela rodasse sozinha.

deolinda, não a kombi.