Monday, July 30, 2007

orlando

a viagem era no tempo e subaquática, um luxo de tecnologia, e ia dar numa praia como qualquer outra. ainda pingando sal, por vontade própria ana ergue a pá acima da cabeça e dá um golpe certeiro na caixa de madeira que emerge instantaneamente da areia, na beirinha da água. tem forma de caixão daqueles de anjinho, quase sem acabamento, como se a pouca vida não justificasse o trabalho e o gasto com ornamentos. um par de botas de marujo pretas, de um material entre o vinil e a camurça, que ela puxa excitada de dentro do invólucro e imediatamente enfia nos pés. ana é a única menina na terra onde só os homens sobrevivem. quando o primeiro inspetor passa por ela, já longe do mar, ana estica o braço direito em uma saudação quase nazista, segurando a respiração por medo de que até seu fôlego transpareça feminilidade.