Monday, April 18, 2011

uma experiência

enfiei a cabeça na caixa no dia dezesseis de outubro. registro como principais as dificuldades de tomar banho e passear o cão, criatura, como se sabe, carente de contato visual para a manutenção de um nível saudável de felicidade. no dia vinte é notável a completa adaptação à nova diagramação do sono, sem maiores contratempos. vinte e três de outubro e crianças riem de mim na fila da farmácia. o papelão de uma das laterais apresenta sinais de desgaste em primeiro de novembro – o experimento não tolera substituições. segundo dia do mês e a gentil vendedora na papelaria presta generoso auxílio com um rolo de fita crepe. obrigado a conviver com bordas enrugadas por quatro dias, culpa do azeite derramado em sete de novembro ao comer tomates. o cão cavoca o fundo da caixa na madrugada do dia doze. maior luminosidade em manhãs de sol devido ao buraco, obrigado a comprar óculos escuros. começa a segunda quinzena, e a faxineira se oferece para tirar o pó da parte interna. recuso. o cheiro de fritura impregna as abas, o vapor do café deformou o quadrado. uma chuva torrencial afoga a cidade nas manchetes do dia quinze, e em vinte e quatro horas completa-se um mês com a caixa na cabeça. sucesso.