Tuesday, March 07, 2006

ontem

era como se dela vazasse uma luz cor de laranja. com ilustração de margaridas vivas. ontem, tanto brilho e era como se ela e outros pedestres não pudessem habitar um único quarteirão, dois corpos disputando o mesmo lugar no espaço. carros buzinam. e displiscente ela abre um guarda-chuva velho, amarrando uns fios de cabelo num elástico que pesca de dentro da mochila. debochada, a maldita. sorri para um homem que atravessa a rua e prum outro que calcula o peso na balança - de onde logo desce, prudente-envergonhado. atravessa a rua correndo num dedo só, faz graça e freia em frente à kombi de operários. sem sandálias pra pisar a chuva, queria mesmo era bailar num temporal de raio e relâmpago. balança a saia na cadência das caixas que quase roçam tímpanos, lá-vem-ela, a louca. o cachorro cala a boca, um pipoqueiro perde a rota e um moleque quase aplaude. membros do júri, senhores: havia motivo pra tanta alegria?

Thursday, March 02, 2006

plágio

são paulo hoje me dói. com as mesmas medalhas ópios édens analgésicos de leminski. se ainda eu carregasse alguma coisa ou fosse elegante. são paulo ainda me chove, inunda. se ainda estas palavras fossem minha última - ou qualquer outra - obra. e de que servem as poesias senão como inspiração ou consolo? assenta, poeira, que eu só quero caminhar.

a falta que ele me faz

mas já nem é mais carnaval, continuo sendo da maneira que você me quer, a vila é campeã e eu aqui quase morro de saudades do rio de janeiro. depois de uma folia com asa-delta na pedra bonita, banho de mar em grumari, chuveirada no diabo, bloco na orla e 96 horas da companhia mais querida do namorado, o pouco que sobrou se resume não só à quarta, mas sim uma semana-inteirinha-de-cinzas. último dia carioca, andando no calçadão de copa vinda de uma ótima praia no arpoador, vi um sujeito cutucando azulejos com um algodãozinho na mão. chegando mais perto, a arte: vários mini-quadrinhos estendidos nas pedras portuguesas (sempre elas), cada um com um retrato diferente, de diferentes cantinhos e paisagens da cidade. fui certeira na pedra da gávea. com isso - e com a areia que veio grudada no vestido de praia - trouxe na mala um pedaço dessa cidade feiticeira, amor pra sempre, e que, só por um pouquinho-bem-ligeiro, ainda deve ficar à minha distância. até que chegue a semana santa, saudades do rio de jane, kiko e lucas, de racca e adi, de silvinha e xuxu, de rita e andré paixão, de canastra e los hermanos, de ana-carolina-lins-martins e molina-clearwater. e de você, meu anjo, buraco maior que me enche (esvazia?) o peito de eco, expectativa principal por tudo que ainda virá.