Tuesday, November 07, 2006

msn

"mas é engraçado que, para mim, você ficou para sempre associada com prazer ensandecido, com alegria rasgada, com furacão e sol. isso é uma das belezas da vida. ninguém me tira toda a alegria que você me deu, todo o espanto."

Thursday, October 19, 2006

sonho erótico - ou quase

abaixo ao sanduíche
que am-pm que nada
dormi de barriga vazia
e eis que,
no meio da madrugada,
ao invés de bicho-preguiça,

recebo visita ilustre:
jack white em pessoa
jogado no chão entoa
uma canção pra mim

Wednesday, October 18, 2006

oficina

ei, zé.

a paisagem hoje está um escândalo, o rio de janeiro dói.
recebi todas as (lindas) mensagens.
aqui me deliciando com os textos, fotos e gracejos do povo antropófago. olha que vou baixar em santos pra comer tudo e todos, entregue para o banquete. estou me arrumando, se prepara... a matéria do nelson ficou, foda-se a modéstia, excelente. louca pra saber sua opinião e transar cada vez mais conhecimento sobre o assunto. fiquei até três da manhã arredondando o texto, que fecha o último parágrafo com (ótima) frase tua. deve estar nas bancas por volta do dia 6, e acredito que a edição vá ser generosa conosco. oxalá.
vou hoje mandar email para roberto oliveira sobre medéia. vai ser perfeito te dar um beijo antes do evento em são paulo, e ainda em terras cariocas, o que embeleza ainda mais o cenário do encontro. descobrirei detalhes e te escrevo para combinarnos de nos ver.

que acha?
olha, morri de alegria com nosso telefonema segunda à noite. que saudade doída, muito tempo longe de você, o rei já cantou isso. vê se não some nunca mais da minha vida, isso não se faz. adoro nossas conversas, alimentam e fazem crescer.

com amor,
m.

Tuesday, September 26, 2006

i'm only sleeping

câmera: ao vivo com você em 3, 2, 1...
repórter: maria das couves deu à luz um casal de gêmeos, digamos, diferentes. as crianças, que nasceram numa maternidade em são paulo, vêm sendo descritas como bebês-panda, embora sua aparência lembre mais a dos bicho-preguiça. isso porque X e Y, que não tiveram seus nomes reais divulgados, apresentam longas garras tanto nas mãos quanto nos pés. a mãe optou por amputar as afiadas unhas apenas das mãos da menina, por razões ainda desconhecidas. como qualquer bebê, X gosta de ser embalada no colo dos pais, amigos e até mesmo estranhos que se disponham a segurá-la. afinal, é preciso coragem para enfrentar o risco de, num acesso de irritação da criança, ter sua barriga e pernas perfuradas pelas garras pontiagudas.

estação clínicas

a mulher no metrô chora. joana-qualquer de costas para o fim da linha, contorcendo dezenove músculos para fazer escorrer um único fio de sal: como se diz órfão ao contrário? foi às compras no sacolão pinheiros, onde pescou calças jeans puídas nos joelhos, camisa de missa cor de abóbora e um par de tênis. novos, como pede a ocasião. a mulher no metrô seca as rugas com os dedos sujos, os mesmos que empurram cabelos para dentro de um coque assustado. escada rolante, extenso corredor, e um suspiro profundo antes de vestir meu filho pela última vez.

Monday, August 21, 2006

antigamente

carioquices à parte, lanço um "vamos combinar" e meio que desencano.
melhor assim, não?

etcetera é uma palavra linda.

Thursday, July 13, 2006

all the places i remember

saudade incontrolável do rio de janeiro

Monday, July 10, 2006

de emendas - e sonetos de amor

senhores deputados, tenho certeza de que é um projeto pertinente. enquanto já criamos e aprovamos licenças trabalhistas voltadas para o benefício de cidadãos recém-casados, mães, pais, funcionários enfermos e/ou em tratamento médico, penso que é chegada a hora de certificarmos mais um desdobramento nesse ínterim. dirijo-me aqui àqueles que podem compreender o vulto de minha colocação: quando os senhores solteiros dão início a um relacionamento, digamos, "firme" - posso utilizar palavras desta sorte em tão nobre e pomposo espaço como nossa câmara? - desejam, certamente, dispender da maior quantidade de tempo possível ao lado da pessoa em questão. no entanto, momentos importantes como o despertar ou a tarde chuvosa debaixo dos cobertores podem ser prejudicados visto que ambos os cônjuges precisam atender a suas obrigações trabalhistas - e, conseqüência, abandonar, com o perdão da saliência, o "bem bom" de uma relação fresca. minha proposta é aprovarmos a licença-namoro, que beneficiará essas pessoas com uma semana de afastamento de seus serviços, sem desconto na carteira. assim poderemos evitar um alto índice de abstinência por doenças forjadas e/ou imaginárias, que vêm em sua grande maioria para suprir e justificar o bom aproveitamento destes tão importantes momentos ao lado do sujeito amado. opiniões?

Monday, June 26, 2006

tempos idos

o poeta chacoalha seus penduricalhos
abre um casaco cheio de métricas, frases de efeito
deixa cair uma rima
no assoalho trincado
e dobrando o corpo cansado
avista botas de uma menina
dá um passo pra trás em respeito

só quero o que é meu
duas sílabas consoantes
que por descuido
escorregaram de mim
deixa assim
minha mão na tua, encontro fluido
históricos conflitantes
e ofereço em troca um bem precioso:
eu

atônito o poeta ergue
a mão, o casaco, a rima
fita a menina
de botas
que, sorrindo, se entrega em verso
não me preocupa fazer sentido
ou se teu casaco puído
carrega mais tralhas que poderia

tudo que eu quero é você
tuas rugas inventadas
e teu olhar envelhecido
minha juventude agora é tua
desenhemos com giz na rua
um poema que chamarei "destino"
feito de palavras ingênuas
escritas por um menino
e colorido de uma felicidade estrangeira
da qual já havia me esquecido

Friday, June 16, 2006

do peito ou da onça?

há um mês e meio encontrei, camuflada atrás das paredes de um casarão na bela vista, uma fatia da minha família. nenhuma relação de sangue ou coincidências em certidões de nascimento: estes são irmãos por opção mútua. se foi imprescindível tirar o pó das amizades antigas, aquelas da época em que eu ainda não tinha ido pros pés do pão-de-açúcar, preciso dizer o quão incrível é a importância do elenco da peça "a casa" nessa minha volta a são paulo. houve noites, antes de conhecê-los, em que eu ia para a frente do antigo prédio da minha avó para contar as janelinhas e ficar, como numa tela amarelada, pintando na janela antigas memórias e momentos de pura felicidade. sentada na calçada, tomada pela mais cruel angústia, chorava, e lamentava sensações que, eu acreditava, não se repetiriam nunca mais. doce engano. do cheiro de bolo com café à baderna com os primos, do colo macio às conversas francas, esses novos amigos me abriram as portas e me ofereceram tudo que eu poderia querer - e precisar. caríssimos: obrigada por fazerem parte voluntariamente da minha vida. amo cada um, e faço questão que vocês saibam disso.

Monday, May 29, 2006

princípio do fim

feito bichos de pupilas dilatadas, todos na sala olimpicamente iluminada afundam a cabeça entre os ombros, como se por instantes fosse possível suprimir o pescoço da anatomia humana. o rapaz próximo à porta apóia o braço pelado numa tipóia e observa sua nova condição com curiosidade e um certo desespero. ele sente frio. lá fora o inverno grita, e a cada leve provocação ao sistema eletrônico que comanda a entrada do hospital - que abre de sopetão para manobristas, cachorros incautos e uma folha de jornal que passa às cambalhotas - se encolhem o rapaz, o braço na tipóia e grande parte dos pacientes que aguardam atendimento na noite cheia de quarta-feira. pfuuuu, assopra o vento gelado. doenças pioram à noite e no frio, é fato. a sala geme. duas crianças choram em cantos diferentes. e há um único sentimento unânime, além da dor: o medo. porque o desconhecido é tudo aquilo que nos une e nos iguala.
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parece um almoço de domingo como tantos outros que acontecem ao mesmo tempo na cidade e no mundo. moleque jogando videogame. "não, duque", grita a menina pressionando uma bochecha do boxer com o joelho. "olha o café", oferece a outra. são cinco tias, duas sobrinhas, maridos, um neto acrescido do amiguinho, genro, bisa. intrusos, nós. solidários. na cama a mulher recém-operada recebe presentes, beijos cuidadosos e alguns olhares piedosos que a incomodam. acende um cigarro. a-vida-é-minha-e-eu-faço-dela-o-que-eu-quiser. há no ar um clima quase de aconchego. abraço algumas pessoas com o olhar. sinto saudade, medo, curiosidade. dó. porque o desconhecido é tudo aquilo que nos une e nos iguala.

Saturday, May 27, 2006

27 de maio

a vida mágica me leva a companhias surpreendentes, com croquete na villaboim, capeletti na franklin roosevelt e festa caipira em são bento do sul. incrível como pessoas passam com rapidez, o acaso escolhendo quais devem ficar e aquelas que, de um jeito ou de outro, vão simplesmente desaparecer: pluf.
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27 de maio - previsão do tempo:
dia ensolarado, com temperaturas acima da média (não precisa levar casaco, e você ainda vai passar calor com essa meia-calça fio 80. depois não diga que não avisei).
27 de maio - seu horóscopo:
você vai se sentir como num filme de fellini, onde cornetas berram e interrompem beijos românticos no bexiga, balões atravessam a rua lotada nos jardins e um pote de sorvete derrama gosto de baunilha num passeio aparentemente banal. dia propício para trotar de braços dados e observar a cidade do alto de uma janela obscena. e se o ser humano é mesmo a única espécie capaz de inventar lembranças, é dever cívico sair e criar boas memórias.

Monday, May 08, 2006

inferno astral

quando deu pra ouvir o barulho da pancada, que acertou com pontaria a base da cabeça e fez espirrar sangue em uns poucos papéis, a vontade que me deu era de fugir. de sair veloz como quem disputa uma corrida ou persegue o inimigo. e com uma frente de alguns metros de vantagem, fazer como nos filmes e dobrar esquiva uma esquina escura, respirando arfante encostada ao beco com cartazes e latões de lixo prateados. mas o clarão e a ferida aberta latejavam. e tudo que o pouco raciocínio sobrevivente à hecatombe permitia vislumbrar era a nítida necessidade de desaparecer. acima de desejar, eu tinha que correr. com uma mão apoiado nos joelhos moles, ergo a cabeça para preparar a posição de arranque. preparar, apontar... alguns cabelos estão grudados no contorno da orelha, outros formam uma pasta gosmenta na gola da blusa. soluços barulhentos começam a lamentar minha condição. repentido: meu único desfecho possível é a fuga. e ensaio o primeiro passo, dois, três, e agora estou trotando desengonçada uma marcha atlética risível e pouco eficiente. assim ela vai me alcançar. ou eu vou acabar me entregando. aqui estou, venha me pegar. não revido, você venceu. até porque, confessemos, ia ser bem difícil sumir de mim mesma muito tempo.

Wednesday, May 03, 2006

vazio


porque tão linda assim não existe
a flor
nem mesmo a cor não existe
e o amor
nem mesmo o amor existe

Monday, April 17, 2006

welcome to rio

você sabe que está indo muito para o rio de janeiro quando a tia da limpeza no graal de resende te cumprimenta. e ainda te chama pelo nome.

você sabe que está no rio de janeiro quando passa na porta do boteco e um mané, ao ritmo de um som obsceno, elogia quase na sua orelha: tchu-tchu-caaaaaa.

você sabe que voltou do rio de janeiro quando desce do ônibus e dá de cara com um simpático termômetro de rua: 13°.

Thursday, April 13, 2006

16 de abril

no último dia, ela foi passear e encontrou um siri azul. achou graça. se chacoalhou inteira, pança, olhos, e quis levar o siri pra casa. corina gostava de esmaltes cor-de-rosa cintilante, pão sovado e viagens longas. colecionava tuppewares, sapatos, netos. ciclotímica, fascinante. gaúcha morena que fui conhecer já loura, riu pra mim com bandagens na cabeça depois de uma cirurgia plástica e a criança pôs-se a chorar. chorei muito por sua causa, a propósito. no dia em que entupi o banheiro azul e levei bronca - achava que a rusga duraria uma eternidade e, por isso, a enchi de pães de queijo na volta da escola: dá o dedinho? espera marido, lasanha, bolo de batata e bife a milanesa. cadê meu helena rubinstein? dizia quá quando o assunto encerrava ou virava nó, proclamava assim como são as pessoas são as criaturas. como? assim, ué. um, dois, três, nove, dezesseis: paparicava todos, pendendo leves distinções que em nada melindravam ninguém. afinal, fomos uma equipe. o time engenhoca, machado afiado com pedra do norte e cerne militar. um doce sargento. que amava pulseiras, produtos da avon e dobermans pretos. no último dia, quis levar o siri pra casa. não deixei, enlouqueceu? vamos desligar a tv e jantar ao som de música brasileira. rir da hebe, cochilar na poltrona e colocar o relógio para as sete da manhã. só eu acordei. eu e uma saudade incrível de você.

Tuesday, March 07, 2006

ontem

era como se dela vazasse uma luz cor de laranja. com ilustração de margaridas vivas. ontem, tanto brilho e era como se ela e outros pedestres não pudessem habitar um único quarteirão, dois corpos disputando o mesmo lugar no espaço. carros buzinam. e displiscente ela abre um guarda-chuva velho, amarrando uns fios de cabelo num elástico que pesca de dentro da mochila. debochada, a maldita. sorri para um homem que atravessa a rua e prum outro que calcula o peso na balança - de onde logo desce, prudente-envergonhado. atravessa a rua correndo num dedo só, faz graça e freia em frente à kombi de operários. sem sandálias pra pisar a chuva, queria mesmo era bailar num temporal de raio e relâmpago. balança a saia na cadência das caixas que quase roçam tímpanos, lá-vem-ela, a louca. o cachorro cala a boca, um pipoqueiro perde a rota e um moleque quase aplaude. membros do júri, senhores: havia motivo pra tanta alegria?

Thursday, March 02, 2006

plágio

são paulo hoje me dói. com as mesmas medalhas ópios édens analgésicos de leminski. se ainda eu carregasse alguma coisa ou fosse elegante. são paulo ainda me chove, inunda. se ainda estas palavras fossem minha última - ou qualquer outra - obra. e de que servem as poesias senão como inspiração ou consolo? assenta, poeira, que eu só quero caminhar.

a falta que ele me faz

mas já nem é mais carnaval, continuo sendo da maneira que você me quer, a vila é campeã e eu aqui quase morro de saudades do rio de janeiro. depois de uma folia com asa-delta na pedra bonita, banho de mar em grumari, chuveirada no diabo, bloco na orla e 96 horas da companhia mais querida do namorado, o pouco que sobrou se resume não só à quarta, mas sim uma semana-inteirinha-de-cinzas. último dia carioca, andando no calçadão de copa vinda de uma ótima praia no arpoador, vi um sujeito cutucando azulejos com um algodãozinho na mão. chegando mais perto, a arte: vários mini-quadrinhos estendidos nas pedras portuguesas (sempre elas), cada um com um retrato diferente, de diferentes cantinhos e paisagens da cidade. fui certeira na pedra da gávea. com isso - e com a areia que veio grudada no vestido de praia - trouxe na mala um pedaço dessa cidade feiticeira, amor pra sempre, e que, só por um pouquinho-bem-ligeiro, ainda deve ficar à minha distância. até que chegue a semana santa, saudades do rio de jane, kiko e lucas, de racca e adi, de silvinha e xuxu, de rita e andré paixão, de canastra e los hermanos, de ana-carolina-lins-martins e molina-clearwater. e de você, meu anjo, buraco maior que me enche (esvazia?) o peito de eco, expectativa principal por tudo que ainda virá.

Thursday, February 23, 2006

com o pé esquerdo

atravessando a sala de costas, alcancei a porta e, ao invés de destrancá-la, selei à chave o apartamento, apertando o botão do elevador. pra cima. os carros corriam as ruas com seus motoristas debruçados no banco do passageiro, braço de apoio, todos olhando para trás ao conferir o trajeto a ser percorrido. na marcha à ré. o ônibus, peguei pela porta traseira. no trabalho, um até amanhã no lugar do bom dia. torta, integralmente do avesso, acordei com as entranhas à mostra, girando num display de exibição. escondendo com a mão pulmões, vísceras. e coração. olho pra dentro - é fácil nessa situação - e, conformada com o erro de diagramação, hipnotizo o relógio esperando que a sexta-feira iminente corrija o incômodo. estúpida. como eu poderia esquecer que as horas, hoje, andam pra trás?

Friday, February 17, 2006

contagem regressiva

"a saudade é tanta que estou com medo de, com meu abraço, partir você ao meio"

falta uma semana exata para o reencontro

Thursday, February 16, 2006

excentricidades VIII

- pediram que eu mandasse um currículo, três fotos produzidas em estúdio e a definição, em uma palavra, do meu gosto musical. parece que vão começar a chamar para os testes de vídeo a partir de um banco de dados feito com base nesse material enviado pela galera.
- bem, se você não botar "eclético", tá dentro.
- pois é.
- aposto que esse banco de dados é feito justamente pra isso.
- para filtrar as pessoas?
- não, para filtrar os ecléticos. ele lê quem definiu seu gosto como "eclético" e deleta. pode escrever qualquer coisa, mas não me coloca um "eclético", senão você vai desaparecer dos arquivos. pra sempre.

Tuesday, February 07, 2006

bem-vindo a são paulo

para que alguma coisa surja, é preciso que outra desapareça. a primeira configuração da esperança é o medo, a primeira manifestação do novo é o horror.

da janela não vejo o corcovado.