Monday, June 11, 2007

simpatizantes

de regata justíssima, os ramones com botox no tecido esgarçado, apanhou o ônibus pra região dos jardins. fez festinha pro cobrador, que resmungou alguma coisa e devolveu o troco. acabou se perdendo do grupo, manifestou sozinho e quase rolou a consolação depois de um toco do cara do isopor de cerveja. na dispersão, suspirou.
morreu ali, em frente à praça roosevelt, aconchegado no cachecol de penas roxas.

Monday, June 04, 2007

caran d'ashe

quis dizer a ele minha aquarela inteira. ou no mínimo fazê-lo saber que havia uma perspectiva, um tema livre, qualquer coisa que o valesse. só saíram rabiscos sem nexo e um engasgo desbotado.

a vida é uma caixa de lápis de cor.

rem

dessa vez a gente foi pra guerra de canudos - embora houvesse um prédio modernoso com pinta de atualidade. entre um andar e outro, na escada de serviço, dava pra ouvir a preparação dos soldados inimigos que iam descer pra nos atacar. a brilhante idéia de sair correndo foi minha e, quando vi, já pulava trincheiras e alguns defuntos recentes. foi quando fisgou o ciático num zunido e eu, que nem sabia que estava pelada, olhei pra bunda e vi o estrago: três tiros em lugares diferentes sangravam desde o cóccix até o calcanhar. a alforria, a volta pra casa, e de teleférico procurávamos, eu e o casal famosíssimo, um hospital pra extrair os projéteis. os globais ficaram na gávea, e segui subindo até a parada de porto de galinhas, onde o maquinista fez o favor de esquecer minhas malas de viagem. mamãe montou lépida na bicicleta e pedalou a ladeira com o comprovante de babagem em mãos. enquanto ela não voltava, inventei o passatempo: com a ponta da bic preta cutucava os buraquinhos alvejados, borbulhando o sangue e encostando a pontinha na bala pra dar barulho. a população local aplaudiu chocada.

Friday, June 01, 2007

café

é no "já vou" vazio que fica claro.
aflita, engole o vácuo e quase levanta, suspensa cheia de ar. agora aperta e assopra a caneca azul entre as mãos, fazendo ondinhas no café.

- voltei a roer as unhas.
- tinha parado?
- não sei. comecei a roer depois de você e, quando vi, tava nessa recaída.
- põe açúcar.
- tem açúcar, já, você me ofereceu antes. até girou a colherinha.
- lembrei.
- então, se você não estiver fazendo nada, pensei qu
- mas eu tô fazendo, sim.
- desculpa, não deu pra ver.
- não tem problema. é só que eu tô ocupado mesmo.
- lembra que você achava que era um disco voador quando nos despedimos lá fora? já eu, eu tinha certeza de que era algo a ver com fogos.
- queria te ver rir, tonta. fazia tempo, a última vez tinha sido dos chinelos, acho.


- você nunca respondeu minhas cartas.
- é porque nunca soube o que responder.

quis meter os dedos por baixo de um daqueles caracóis, mas achou impróprio. espalmou as costas magras, apoiando o dedão numa costela feito corda de viola. os peitos se espremiam e talvez os quadris fizessem força. não tocou sequer uma música, nenhuma luz brilhou ou mesmo alguém percebeu aqueles dois costurados num abraço mongo. entraram para os registros em silêncio, como qualquer outro acontecimento incrível de ordem galáctica. do banal para a efeméride foram apenas quatro segundos.