numa caixa de papelão capenga guardo, há anos, coisas que considero registros das pessoas que já passaram pela minha vida. em diferentes graus de afetividade, estão lá, entre outras bugigangas (nada pejorativo nessa palavra... alô, tati polacow!): cartas que eu trocava com uma amiga do interior quando tinha 14 anos; bilhetinhos de ex-namorados; um texto que mandei para a revista cláudia, há 12 anos, para concorrer a uma viagem pra disney; uma fitinha de são judas tadeu esgarçada e arrebentada; um autógrafo da atriz denise fraga, escrito num cartão quando a moça foi às compras na papelaria onde minha mãe trabalhava; uma fita cassete daquelas bem antigas, com etiqueta marrom e vermelha, onde se lê "marcella e luiz - 1984". no melhor clima "saudade das minhas lembranças" (alô, nervoso!), vez em quando coloco no aparelho de som o registro de uma noite que passei, só eu e meu pai, gravando tudo que acontecia na vida de uma (semi)pessoa de quatro anos. barulho da sopa caindo da colher para o prato, trechos do "viva o gordo", minha primeira (e singular) composição musical (com vocal e tudo) e, o melhor de tudo, uma entrevista que o eterno repórter fez comigo, na única vez em toda a minha carreira em que já estive do outro lado do gravador (na época, um daqueles panasonic gigantes, com uma alça tosca que fazia cléc, e do tamanho médio de uma edição do "ulisses"). na pauta, quais seriam meus planos para as férias que se aproximavam.
- o que você está pensando em fazer quando acabarem as aulas?
- ah, tô pensando assim num mar, numa piscina, qualquer coisa que tenha lugar pra eu nadar. porque faz tempo que eu não nado...
como alguém de quatro anos pode usar a expressão "faz tempo" para definir alguma coisa na sua parca existência? porque fazia, no máximo, quatro anos que eu não nadava, correto? no fim das contas, falei pro jornalista que tinha batido o martelo, e decidido ir passar aqueles dias na casa da minha avó, a popular "casa da praia". eu amava o mar. entrava de cabeça e bóia do popeye em todas as ondas que apareciam. um belo dia cresci, fiquei babaca e passei a temer aquela imensidão de água, reduzindo minha interação com as águas a mergulhos bestas só para refrescar o cucuruto nos dias de sol. mas nunca, nunca mesmo, deixei de achar o oceano uma das coisas mais lindas do mundo, olhando de longe a beleza que é você conseguir ver a linha do horizonte morando numa cidade grande. quando me mudei para o rio, e trabalhava no jornal do brasil, saía da urca e fazia o caminho do aterro, só porque achava mais bonito. até hoje ainda escolho a niemeyer (alô, rô!) ao invés do túnel. de certa maneira, o mar nunca deixou de fazer parte da minha vida. só mudou de figura. assim como todas aquelas pessoas da caixa de papelão que, mesmo que não sejam mais protagonistas, ainda as vejo de longe, achando tudo muito lindo e sentindo uma baita d’uma falta.
1 comment:
Também tenho uma caixa dessas, amiga... Que abro naqueles momentos em que sinto necessidade de nostalgia.
Agora, quanto à Niemeyer, mesmo com a beleza do mar, você deve rever suas preferências. Afinal, já passamos um sufoco e tanto por lá.
Espero que esteja curtindo o novo trampo. Smack!
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