Thursday, April 22, 2010

indigente

você desce a rua quase a galope, um compasso muito aberto galgando de metro em metro a calçada em reforma do posto de gasolina. é o fim do quarteirão - e você sabe disso. não breca, não vira a cabeça, não calcula o movimento dos carros nem diminui a velocidade. quatro, três, dois, últimos centímetros, e sem susto pisa o asfalto. marchando. a larga avenida de cinco pistas não te vê, e se vê não se importa. segue a mesma dinâmica. limite de 70 quilômetros por hora, ladeira abaixo, e você estanca na terceira faixa, vira de frente abrindo os braços. o homem vitruviano. uma moto desvia, um fusca, o ônibus derrapa e passa fazendo vento na sua camisa. diminuindo e já muito lenta, a caminhonete acerta você em cheio. o parachoque alto esmaga suas coxas, fratura fêmur e bacia. seu estômago se molda ao capô com violência, dobrando-o ao meio, enquanto seu rosto parece bater no pára-brisa. você voa para o alto em uma cambalhota ligeira que te devolve precisa embaixo dos pneus. observo de cima do viaduto, desligo o rádio e a cena segue sem som. engato a primeira enquanto, moroso, o trânsito começa a andar na minha frente.

1 comment:

Chato said...

cai' aqui hoje... gostei. boas palavras, bom tempo, bom tecido.